Por que a imigração americana quer acessar suas redes sociais?

No dia 31 de maio entraram em vigor nos Estados Unidos novas regras para obtenção de visto de entrada no país.  Uma dessas novas medidas impostas pelo governo norte-americano anda levantando muita polêmica: agora, além da documentação de praxe, é preciso informar também sobre as redes sociais que a pessoa usa ou usou nos últimos cinco anos (incluindo Twitter e Facebook), além de endereços de e-mail.

A justificativa é que esse tipo de investigação mais aprofundada sobre candidatos a visto para os Estados Unidos pode colaborar com o aperfeiçoamento da avaliação dos riscos de segurança envolvidos com a permissão de entrada de estrangeiros e até mesmo de circulação de cidadãos americanos dentro e fora do país. Em outras palavras, o Departamento de Segurança Nacional (Department of Homeland Security) quer conhecer as suas atividades on-line para decidir se você tem potencial de trazer problemas de diversas ordens ao país e, em caso afirmativo, barrar sua entrada nos EUA.

Crédito: Pixelkult

Essa é uma medida que impactará cerca de 15 milhões de viajantes por ano, e está sendo recebida com preocupação. Em estudo conduzido no Brennan Center for Justice (New York University), Faiza Patel, Rachel Levinson-Waldman, Sophia DenUyl e Raya Koreh apontam que nas redes sociais descobrimos uma imensa variedade de informações sobre as pessoas, incluindo preferências pessoais, alinhamentos políticos e religiosos, condições de saúde física e mental, e a identidade de seus amigos e família. No entanto, conforme as pesquisadoras, esse tipo de levantamento “é suscetível a enganos, e o monitoramento integral de redes sociais cria sérios problemas de privacidade e de liberdade de expressão”.

As informações disponibilizadas até o momento não indicam que tipo de informação pode ser interpretada como indício de risco à segurança nacional, e, ainda segundo a pesquisa, verificou-se que parte dos agentes envolvidos nas verificações de redes sociais também não estão certos sobre o que exatamente sugeriria perigo. Um dos problemas suscitados por essa falta de clareza sobre os dados que devem ou não ser considerados alarmantes, nas palavras das pesquisadoras, é que “se de um lado os agentes obviamente devem ter certa flexibilidade em seus critérios, a amplitude de juízos somada a ressalvas frágeis deixa a porta aberta para discriminação baseada em posicionamentos políticos ou religiosos”.

Outro ponto que merece comentário é a gradual mecanização dos processos de monitoramento de redes sociais usando Inteligência Artificial, capaz de buscar palavras-chave e identificar conexões “não óbvias” entre pessoas, dados e organizações. Segundo a pesquisa, esse é um ponto especialmente problemática dado o fraco desempenho de sistemas automatizados tentando realizar análises de conteúdos sensíveis, bem como a ambiguidade de diversas postagens em redes sociais (afinal, a inteligência artificial ainda não é capaz de rastrear o uso de ironia ou sarcasmo, como um ser humano o faria).

Crédito: Jan Vašek

Ainda mais alarmante, conforme Patel, Levinson-Waldman, DenUyl e Koreh, é que são frágeis as evidências de que esse tipo de monitoramento traz os resultados esperados. Por esse motivo, é questionável a urgência na implementação dessas novas regras, bem como a necessidade de se armazenarem os dados dos candidatos a visto por tempo indeterminado, sem especificação sobre quais agências do governo dos Estados Unidos têm acesso a essas informações.

“As redes sociais são hoje uma extensão natural e importante do comportamento dos indivíduos, e infelizmente em alguns casos têm se tornado um instrumento de disseminação de discursos de ódio. Portanto, é legítimo que o governo queira entender este comportamento; ao mesmo tempo, é preciso que as regras de acesso e utilização destas informações sejam claras, a fim de evitar abusos e interpretações equivocadas por parte das autoridades governamentais”, diz Pedro Drummond, sócio da consultoria Drummond Advisors, especializada em transações entre Brasil e Estados Unidos e imigração de negócios.

Independentemente dos resultados e dos questionamentos sobre as novas medidas, a pergunta quanto ao uso das redes sociais nos últimos 5 anos já faz parte dos formulários DS-160/DS-156 (Nonimmigrant Visa Application) e DS-260 (Immigrant Visa Application). Por isso, esteja preparado para fornecer detalhes sobre seu histórico na internet já na próxima aplicação de visto. Lembre-se de que assinalar a opção unknown (“desconhecido”) caso você não se lembre com clareza de algum detalhe pode abrir a porta para questionamentos mais aprofundados por parte das autoridades norte-americanas.

Para mais informações e orientações sobre como proceder em pedidos de vistos de negócios e imigração americana, entre em contato por info@drummondadvisors.com

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