[Matéria publicada pelo jornal Valor Econômico].
Por Juliano Basile
Em meio à recessão, empresas brasileiras estão buscando os Estados Unidos para diversificar investimentos, reduzir riscos, volatilidade e alcançar tanto os consumidores daquele país quanto novos mercados na Ásia com os quais os americanos possuem tratados comerciais.
A embaixadora dos EUA no Brasil, Liliane Ayalde, acredita que os investimentos de empresas brasileiras naquele país poderão ultrapassar o patamar de US$ 22 bilhões, que foi registrado em 2014. A medição de 2015 ainda não foi realizada pelo Departamento de Comércio, mas a busca por novas parcerias de negócios nos EUA está crescendo.
Uma demonstração disso é que o Brasil se tornou a sétima maior comitiva do programa SelectUSA, lançado pelo presidente Barack Obama para aumentar os investimentos de empresas estrangeiras nos EUA e que realiza a terceira reunião anual durante esta semana, em Washington. O Brasil só está atrás de quatro asiáticos (China, Japão, Taiwan e Índia), do Canadá e da Suíça.
“Hoje, temos empresas pequenas que nunca pensaram antes em fazer investimentos fora do Brasil, e empresas grandes também”, disse a embaixadora, citando a Oxiteno, empresa do setor químico com parceria em andamento com os EUA. “Para nós, isso é muito importante. As companhias têm um número de iniciativas relevantes e conseguem obter muito sucesso no os EUA”, afirmou ao Valor.
Para Ayalde, a diversificação de investimentos no exterior pode ajudar as empresas brasileiras no momento de dificuldades econômicas no Brasil. “Há muitas oportunidades de investir, de crescer, de fazer negócios e procurar mercados em outros países também”, afirmou. Segundo a embaixadora, os EUA estão procurando facilitar as parcerias, fornecendo informações sobre os locais mais adequados para se realizar negócios e as condições de investimentos.
Dentro do programa SelectUSA, diferentes Estados americanos, como Iowa e Tennessee, procuram atrair companhias estrangeiras para os seus territórios. “Aqui, as empresas vão conseguir muita informação sobre como fazer negócios nos Estados Unidos.”
O Brasil tem 48 inscritos na SelectUSA, entre empresas e entidades de promoção de comércio e investimentos. A lista vai desde grandes companhias de trading até empresas menores, como a Rádio Televisão de Uberlândia. A maioria dos inscritos é do Estado de São Paulo (43%). Outros 18% são do Rio de Janeiro, 14% de Minas Gerais e 10% do Rio Grande do Sul.
Para Pedro Drummond, porta-voz da Drummond Advisors, que auxilia companhias brasileiras a se estabelecerem nos EUA, o fato de o desempenho da economia americana estar em crescimento abaixo do esperado também não está afetando negativamente o apetite das empresas brasileiras rumo àquele país. “O mercado americano, mesmo crescendo num ritmo um pouco abaixo do esperado, ainda é muito grande para as empresas brasileiras.”
Segundo Drummond, o que mais atrai as companhias brasileiras são os incentivos à inovação, o acesso à tecnologia e mão de obra eficiente, o grande mercado consumidor e o acesso a mercados externos. “A economia americana é plataforma para outros países, principalmente para a Ásia. E a presença no mercado americano de empresas de tecnologia é um é um atrativo para outras companhias investirem nas brasileiras.”
Na abertura da reunião, Obama ressaltou que os Estados Unidos têm regras para facilitar aportes de capital e custos baixos para investimentos externos, além de mão de obra qualificada e incentivos à inovação. “Nenhum país é tão incentivador da inovação e tem tantas universidades de alto nível como os Estados Unidos”, disse Obama. “O custo da energia é mais baixo aqui do que em outros países. ”
Para a secretária de Comércio dos Estados Unidos, Penny Pritzker, Obama “viu o investimento estrangeiro não apenas como um meio de nos tirar da recessão [da crise de 2008], mas como uma avenida que nos permite ter uma relação mais próxima com nossos parceiros e aliados globais”.